‘Pensando e Caminhando’ artigo de Júlio Wandam


 ‘Pensando e Caminhando’
Não me surpreende mais algumas perguntas de moradores de Tapes. Desta feita, fui inquirido pela dona da padaria, sobre a minha "proibição" de construção de banheiros públicos na praia da Pinvest.
Primeiro, nem tomado de espanto fiquei, visto ser esta uma pergunta freqüente que fazem, quando "algumas otoridades" costumam jogar a culpa no eco-chato e não admitirem suas falhas em projetos que acabam dando com os "burros n'água".
Sobre o banheiro da Pinvest, que estariam construindo, nem tinha conhecimento, pois a última vez que estive no balneário, foi quando presenciei dezenas de cavalos que andavam e cagavam nas águas da praia “menos poluída” da cidade.
O fato é que durante muito tempo, ficava sabendo destas imputações sem valor a minha pessoa ambientalista desta forma, quando paravam para dizer: “Viu o que o Alcaide falou de ti na rádio?”, - é claro que não, pois seria na televisão e na rádio eu ouviria.
Mas em verdade existe preocupação ambientalista com algumas situações;
- Sim, com as "merdas" da cidade, estas que deságuam na lagoa dos Patos, local de veraneio de turistas e incautos cidadãos, sendo claro e objetivo.
Os malfeitores ...
 Mas a preocupação é na verdade com os malfeitores da saúde pública; o Coli, o Forme e o Fecal, uma quadrilha bem estruturada que conta com ramificações em todos os domicílios da cidade e até nas hostes do poder, alguns estão a serviço.
Em algumas situações, tal presença destes abjetos e contaminantes visitantes é mantida em sigilo obsequioso, visto se tratar de problemas sérios na economia turística da cidade em primeiro lugar e na saúde pública em décimo primeiro lugar.
Pensar em convidar os moradores à ligarem suas casas na rede de esgotos para lançarem nas lagoas de decantação no loteamento no Balneário Rebello, não está nos planos de nenhum “salvador da lavoura” que passou por esta cidade.
Agora, quanto a merda na praia, que seria lançada via banheiro público na orla da Pinvest, eu declaro aqui para os devidos fins e à quem interessar possa, que nada tenho há ver com denúncia alguma de construção de banheiros, até porque sei não iriam ensinar os cavalos que cagam e andam dentro da água à utilizar o recinto, então, não haveria impedimentos, pois os humanos sabem usar uma privada. Lá em Santa Catarina que eu saiba, tem banheiro na orla, nos restaurantes e outros estabelecimentos.
Uma maravilha!
Nesta órbita de ação ativista, devemos pensar sobre tais iniciativas, e veja; válida do meu ponto de vista a colocação de banheiros públicos, em local correto, com tratamento individual do esgoto gerado e que possa ser lançado efluente mais limpo na água que até o momento, é considerada livre dos três malfeitores da saúde pública.
Então, o Balneário Pinvest poderá continuar ostentando níveis de poluição baixíssimos se comparada a outras praias da cidade em que a Placa da FEPAM anoitece e não amanhece, faz algumas décadas.
A propaganda enganosa é viral (literalmente), pois acabam os turistas não mais usando este produto „lagoa‟, que tanto chamou a atenção do Indiano "das cabeças de vento", na qual Tapes se manteve décadas de costas para tal maravilha, cagando e andando para a poluição e degradação das sangas e da natureza pujante, agora redescoberta pelas nações emergentes e capitalistas, que viram aqui ouro e platina em nossa terra.
Viva a invasão dos novos colonizadores, que venha ‘Kali’ junto para reordenar as coisas e fazer um novo futuro de uma nova civilização. 
Julio Wandam 
Ambientalista
   

Sobre o Tempo e as Jaboticabas


 Sobre o Tempo e as Jaboticabas
Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora. Sinto-me como aquele menino que ganhou uma bacia de jabuticabas: as primeiras ele chupou displicente, mas, percebendo que faltam poucas, rói as sementes.
Já não tenho tempo para lidar com mediocridades... Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados. Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte. Já não tenho tempo para projetos megalomaníacos. Já não tenho tempo para conversas intermináveis para discutir assuntos inúteis sobre vidas alheias que nem fazem parte da minha.
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturas. Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário geral do coral. Lembrei-me agora de Mário de Andrade que afirmou: "As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos".
Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa... Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente mais humana e racional. Gente que saiba rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, tapinhas nas costas, risinhos falsos... Gente que não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade, defende a dignidade dos marginalizados, e honra, de fato, a sua.
Gente que deseja a serenidade das coisas simples: uma boa música, cerveja gelada, o sossego de um lar vazio do supérfluo e cheio de amor e paz! Gente que cuida e preocupa-se com o seu próprio nariz... Quero caminhar perto de pessoas de verdade, desfrutar desse amor absolutamente, sem fraudes. Já não tenho tempo para perder com pessoas que ainda não acordaram para a vida. Só o essencial faz a vida valer a pena. Basta-me o essencial! 
Rubem Alves